Ser Terapeuta da Fala: que relação com a psicopatologia dos utentes?

terapia da fala

Cada profissional de saúde é, diariamente, confrontado com uma imensidão de solicitações e exigências, que o assoberba.

No entanto, como se tal não fosse por si só suficiente, por vezes, surgem casos ainda mais desafiantes, que nos afastam progressivamente da nossa área de conforto e especialidade. Um Terapeuta da Fala, que exerça a sua atividade com crianças e/ ou adultos, ver-se-á também ao longo do seu percurso, muitas vezes, nesta posição.

Todos os profissionais sentem a necessidade, premente, de se construírem como pessoas e profissionais, crescendo enquanto indivíduos e, cada vez mais demonstrando competências nas temáticas específicas em que intervêm. Tal torna-se mais desafiante quando somos confrontados com áreas que, não sendo diretamente a nossa especialidade, contribuem ou interferem nos tópicos que habitualmente nos são familiares. Um exemplo disto mesmo, pode ser a inevitabilidade de um Terapeuta da Fala compreender melhor o enquadramento teórico que justifica problemáticas da psicopatologia, assim como solucionar dificuldades práticas em atuar com quem o procura e apresenta, concomitantemente, situações de perturbação do foro psicológico/psiquiátrico.


Quantas vezes se deparou com crianças e adolescentes que apresentam comportamentos que o preocupam, sem se sentir bem dentro do contexto?
Quantas vezes percebeu que existem aspetos psicológicos que se relacionam e interferem no processo de aprendizagem e com as próprias estratégias de intervenção que procura implementar?
Quantas vezes se questionou sobre a intervenção e forma de atuar perante crianças ou adultos com psicopatologias?

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Neste sentido, dentro do vasto mundo que é toda a área da psicopatologia, tanto em crianças como em adultos, é crucial saber comunicar e gerir a relação terapêutica com quem procura os nossos serviços. Se ao um Terapeuta da Fala cabe intervir na capacidade comunicativa dos indivíduos, e se tudo o que fazemos é comunicar, como saber atuar face à exigência de comunicar e intervir com um sujeito deprimido ou ansioso, que não está suficientemente disponível para se relacionar connosco, ou que pode ler nas nossas interações ameaças? Quantas vezes, muitas crianças e adolescentes com dislexia deveriam ser mais e melhor diagnosticados na área da psicopatologia, porque se encontram em processos depressivos, desmotivados e/ou apresentam comportamentos de oposição, podendo estas mesmas características interferir com o trabalho dos Terapeutas da Fala (não sendo no entanto, necessariamente o seu foco de intervenção)?

É neste ponto que os saberes se cruzam, porque todos poderemos construir pontes entre distintas disciplinas que não se sobrepõem, mas se combinam e completam. De modo a que se saiba, nomeadamente, identificar os principais sinais e sintomas das dificuldades de aprendizagem e saber lidar com outras comorbilidades psicopatológicas, para que os Terapeutas da Fala possam com maior facilidade articular com os pais, médicos, psicólogos, professores e outros profissionais, assim como experienciar maior segurança e confiança na seleção e aplicação das suas estratégias de intervenção.

 

A construir pontes para o futuro: Andreia Pacheco | SeedGO