Qual o papel do Terapeuta da Fala com pessoas com Alzheimer?

Dia Mundial da Doença de Alzheimer

Quando pensamos no apoio e na intervenção com pessoas com Demência e, em particular, com Doença de Alzheimer, o papel do Terapeuta da Fala não é imediatamente reconhecido mas pode revelar-se um aliado precioso.

Segundo o Royal College of Speech and Language Therapists (RCSLT, 2013), a intervenção específica de um terapeuta da fala em casos de demência tem, genericamente, os seguintes objectivos:

  • Avaliação da Linguagem – Diagnóstico Diferencial
  • Avaliação detalhada das funções comunicativas – estruturação e discussão de planos de intervenção
  • Intervenção ao nível da melhoria ou manutenção da Comunicação das pessoas com demência e dos seus cuidadores
  • Avaliação e intervenção ao nível da Deglutição
  • Treino/formação da Equipa e dos Cuidadores
  • Investigação científica e desenvolvimento das melhores práticas de intervenção

Independentemente das definições formais é compreensível que, sendo a comunicação humana o pilar da relação humana, a participação em actividades sociais é enfraquecida quando as capacidades de comunicação vão diminuindo devido à progressão da doença.

A parte mais importante de um plano de intervenção de um terapeuta da fala, que trabalhe com pessoas com demência, é garantir que os objectivos ligados à comunicação e à deglutição sejam individualizados e funcionais.

Uma das partes mais desafiantes mas também compensadoras do nosso trabalho como terapeutas da fala é o respeito pela individualidade de cada pessoa. A intervenção é vista como um processo conjunto e de parceria e onde se identificam as estratégias ou abordagens mais úteis/que melhor funcionam.

É importante que os terapeutas da fala se foquem efectivamente na capacidades e competências individuais da pessoa e não priorizem a intervenção baseada nas suas limitações. À medida que a doença progride/ao longo da progressão da doença, o papel do terapeuta da fala envolve sobretudo a identificação e implementação de estratégias compensatórias e a capacitação das famílias para diminuir o impacto das dificuldades sentidas.

Neste sentido, aqui ficam algumas dicas que podem ajudar a melhorar a interação comunicativa com uma pessoa com demência:

  • Procure um lugar calmo para comunicar: evite ambientes com ruídos de pessoas, máquinas, rádio ou televisão que dificultam a capacidade atencional da pessoa.
  • Mantenha o contacto visual e converse ao mesmo nível: Posicione-se de forma a ficar ao mesmo nível da pessoa com quem quer conversar. Flexione os joelhos ou sente-se para ficar melhor posicionado. Também é importante que se aproxime de frente, pois abordar a pessoa de lado ou por trás pode assustá-la e dificultar a comunicação.
  • O toque pode ser útil, mas também pode ser interpretado com um acto agressivo: Diga à pessoa o que vai fazer antes de fazê-lo, de forma a que a pessoa não se assuste nem sinta que lhe está a ser invadido o seu espaço pessoal.
  • Use também o nome da pessoa, pois ajuda a orientar melhor sua atenção para si. Se a pessoa estiver consciente da sua presença e conseguir manter a atenção enquanto fala, é mais provável que consiga entender a mensagem que está a querer transmitir.
  • Fale com calma: Mesmo em situações mais desafiantes e difíceis, mantenha sempre a serenidade. Um tom de voz apressado ou irritado vai muitas vezes espelhar essa atitude e aumentar a possibilidade de conflito.
  • Simplifique a informação: Utilize frases curtas e objectivas e seja directo na ideia que quer transmitir. Evite misturar assuntos, porque a capacidade de compreensão da pessoa pode estar afectada.
  • Faça apenas uma questão de cada vez e reforce a entoação: Durante a conversa, faça apenas uma pergunta de cada vez e espere pela resposta antes formular outra pergunta. Lembre-se também que questões como “quem é?”, “onde foi”, “como foi?” ou “mas porquê?” são muito difíceis de compreender ou de responder. Inverta frases negativas tornando-as positivas. Por exemplo, diga “Vamos por aqui” em vez de “Não vá para aí”. Mas lembre-se, é necessário cuidado para não infantilizar a pessoa. O declínio cognitivo não significa que o adulto passe a ser uma criança. As atitudes de infantilização são facilmente detectadas por um adulto com demência e diminuem a sua auto-estima, confiança e dignidade e podem aumentar as atitudes de agressividade.
  • Não imponha memórias: Durante a conversa, evite perguntar à pessoa se ela se lembra de alguma determinada situação.  Muitas vezes, a pessoa não é mesmo capaz de se lembrar e a situação só fomenta o sentimento de frustração e constrangimento.

É importante relembrar os familiares que apesar de existirem estratégias compensatórias que podem facilitar o quotidiano, o mais natural é que a pessoa continue a precisar de ajuda para as conseguir utilizar. Neste ponto, o suporte familiar fará a diferença na utilização destas estratégias e permitirá, sem dúvida, manter alguma independência e qualidade de vida!

Inês Tello Rodrigues