“Grão a grão enche a galinha o papo” é com a sabedoria popular que vamos começar a falar em poupança.
Mais do que o hábito de separar algum dinheiro e colocá-lo numa caixinha ou numa conta poupança, P–O–U–P–A–R é:
Paciência
Ter uma atitude paciente é importantíssimo para ver uma poupança ganhar forma, saber lidar com a vontade de partir o mealheiro e contar as moedinhas, ou lidar com a curiosidade e ansiedade de saber afinal quanto dinheiro já se conseguiu juntar na conta poupança exige que tenhamos alguma dose de paciência. Hoje em dia, com os pagamentos online, e a facilidade de movimentar as contas através dos bancos online não nos podemos esquecer de manter esta atitude paciente que no futuro nos permitirá obter não só a poupança como os juros associados. Os juros pagos perante um depósito bancário são no fundo uma retribuição associada ao tempo e ao montante depositado e podem ser de vários tipos e com diferentes condições de pagamento. Independentemente da escolha do produto financeiro de poupança deve ler detalhadamente o folheto informativo disponibilizado pelas instituições financeiras e consultar profissionais especializados na área da consultoria financeira para esclarecer todas as suas dúvidas. Em qualquer opção é importante que se conheça a si, que conheça o seu perfil de poupança e o seu grau de paciência até porque em alguns casos os levantamentos antecipados poderão ter penalização nos juros e/ou montante investidos (capital).
Objectividade
A capacidade de definir objectivos “SMART” (acrónimo inglês Specific, Measurable, Attainable, Realistic, Time-bound): específicos, mensuráveis, atingíveis, realistas e definidos temporalmente. O grau de detalhe e definição do objectivo que nos propomos atingir com a poupança transforma este vínculo muito mais forte aumentando o compromisso com a nossa poupança e o sucesso da mesma. Faça um exercício de definir um objectivo SMART para a sua poupança e escreva-o num lugar visível, ou considerando a era digital em que vivemos coloque-o como um lembrete na agenda mensal do telemóvel no momento de adicionar mais dinheiro à sua poupança para que se lembre sempre do propósito da sua poupança.
- Exemplo 1: “Visitar Buenos Aires nas férias de Junho de 2021 que será possível com uma poupança de 75€/mês.”
- Exemplo 2: “Todos os anos ir a um festival de música que será possível com um poupança de 15€/mês.”
Utililidade
A utilização eficiente dos recursos monetários de que dispomos é também uma forma de poupar. “A poupar se gasta e a gastar se poupa”, este ditado popular consciencializa-nos da ideia de que também é necessário sabermos gastar, ou por outras palavras, saber quanto gastar e onde gastar, desenvolvendo uma consciência da opção por produtos mais duradouros, produtos mais eficientes, produtos com menos manutenção. Estas decisões de afectação dos recursos disponíveis a um leque de necessidades ilimitadas está na base da definição de Economia, assim “economizar” é também um termo muito utilizado quando nos queremos referir à criação de poupança. Economia define-se como a ciência que estuda a afectação de recursos escassos a necessidade ilimitadas pelos particulares, empresas ou por um Estado numa determinada sociedade. E por mais contraditória que esta afirmação possa parecer, a ´poupança está no gasto também’, remete-nos assim para outra perspectiva da poupança muitas vezes esquecida.
Planeamento
Planear está intimamente relacionado com os objectivos SMART definidos. Planear vai permitir tornar o caminho para a prossecução dos objectivos mais transparente, mais controlado e com estágios intermédios. Ao planear existe a consciência do percurso, do tempo e de todas as actividades/atitudes que devemos adoptar para uma poupança. Definir estágios intermédios ou níveis intermédios de poupança, celebrando estas pequenas etapas é muito importante, quer para nos consciencializar que conseguimos quer para nos situarmos temporalmente. Sugerimos que faça um cronograma e que celebre as pequenas metas. Assim a cada 500€ de poupança faça um brinde!
Adaptar
A adaptação constante às mudanças que ocorrem ao nosso redor revela-se como um desafio. A vida é uma mudança constante por isso adoptarmos um olhar crítico e uma atitude activa em busca de informação relaciona-se intrinsecamente com a nossa capacidade de adaptação ao mundo. Assim, quer seja na prática de estratégias mais eficazes para a nossa poupança, quer seja através da escolha de soluções mais eficientes para os nossos gastos ou até mesmo uma redefinição de objectivos de poupança pois os iniciais poderão revelar-se desajustados à realidade, o importante é que esteja atento às mudança e sempre que necessário adapte-se!
Recusar
O facto de desde pequenos sermos habituados a tomar decisões sobre o brinquedo que vamos comprar com o dinheiro que fomos juntando das prendas de aniversário e Natal, leva-nos a ter uma noção desde tenra idade do que é gerir algo, neste caso as nossas finanças pessoais. Dizer “SIM” e “NÃO” é muito eficaz durante o processo de poupança, para conseguir responder com segurança é muito importante que mantenha o foco nos seus objectivos de poupança. Quando a vontade está plenamente representada nos nossos objectivos fica muito fácil decidir entre o que realmente necessitamos e o que é irrelevante ou até mesmo uma despesa fútil. Criar hábitos onde identificamos as prioridades num determinado momento da nossa vida, onde relevamos para uma fase seguinte algo que se calhar na realidade não precisamos naquele momento são excelentes hábitos de poupança. Reconhecer o impacto de um “SIM” e noutras situações responder “NÃO” torna-se um processo natural.
Parece que poupar afinal ´tem muito que se lhe diga´, e são muitos os desincentivos à poupança na sociedade actual. Revestidos das mais diversas formas como a facilidade dos créditos oferecidos pelas instituições financeiras (consumo, habitação, automóvel, etc.), o tentador status que os anúncios publicitários oferecem, as irresistíveis promoções/saldos e liquidações que recebemos por sms, email e TV e nos levam a comprar bens que na realidade não necessitamos, o pagamento de subsídios de férias e natal em dois momentos no ano que cria uma ilusão de poupança àqueles menos habituados a separar algum dinheiro todos os meses, o parcelamento do pagamento oferecido na aquisição de muitos bens e disponibilizado por muitos espaços comerciais. Perante todos estes casos necessitamos de reunir diariamente os nossos super-poderes para conseguir P-O-U-P-A-R.
Da experiência que tenho ao longo destes anos como formadora/professora e consultora financeira acredito que a literacia financeira deve ser implementada deste cedo na vida dos jovens através de projectos interactivos de simulação de situações dos desafios mais comuns e expectáveis da vida em sociedade, jogos pedagógicos ligados a este tema são já desenvolvidos em algumas escolas que reconhecem a importância do tema na vida dos jovens.
Esta promoção da literacia financeira que vos falo inclui temas como gestão de finanças pessoais, consulta de legislação, conhecimento das obrigações legais, consulta e acesso a informação relevante e utilização de ferramentas informáticas de gestão.
Desafie-se e comece hoje a fazer a sua poupança ou se for o caso uma poupança familiar.
Boas poupanças!
Mariana Paupério
*Por opção do autor este texto não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico