Acessi(de)bilidades

acessibilidade

“A acessibilidade é um direito, não um privilégio” William Loughborough

Quando falamos em acessibilidade pensamos, quase de forma imediata, em acessibilidade física, ou seja, nas características de um equipamento ou de edifício (p.e. rampas, passadeiras, elevadores) que permitem o acesso a pessoas com mobilidade reduzida.

Mas e se a pessoa  não tiver dificuldades ao nível da mobilidade mas tiver dificuldades em falar? Como é que uma pessoa com dificuldades de comunicação acede à informação de um determinado espaço?

Se as barreiras físicas são fáceis de identificar, é importante pensar que acessibilidade terá de contemplar também as barreiras à comunicação.

Uma barreira à Comunicação refere-se a toda a dificuldade gerada pela falta de informação de um determinado local. Acessibilidade Comunicativa significa disponibilizar a informação e os serviços em diversos formatos (visuais, incluindo braille, luminosos e/ou auditivos) permitindo o acesso e a compreensão de todos. Referimo-nos a todo o tipo de  informação, desde a que é disponibilizada num folheto informativo, à ementa de um restaurante ou às máquinas de multibanco.

Pensemos, então, num exemplo de uma pessoa que, por ter tido um AVC, ficou com dificuldades em falar e em compreender informação escrita e que necessita de ficar alojada num hotel. Para que chegue ao quarto onde ficará alojada, além de ter que interagir com o funcionário da recepção, terá que chegar sozinha ao seu quarto. Nesse caminho poderá ter que usar elevadores, atravessar corredores, contactar com várias pessoas e, ainda, descodificar inúmera informação escrita. Se a pessoa não conseguir, por exemplo, compreender tudo o que lhe foi dito, ou porventura não conseguir aceder à informação escrita, que estratégias poderiam ser facilitadoras? Será que com pequenas alterações no ambiente, estaríamos a promover uma maior autonomia e participação das pessoas? A resposta é peremptoriamente afirmativa.

De uma forma esquemática, um serviço que se considere acessível nas suas diferentes dimensões, deverá contemplar e considerar quatro elementos:
  1. Chegada: a pessoa tem que conseguir chegar ao serviço/local que pretende (transportes públicos, sinalética, etc)
  2. Entrada: a pessoa deverá conseguir entrar de forma autónoma no local e obter todas as informações necessárias à entrada;
  3. Mobilidade: a pessoa deverá circular sem problemas em todos os espaços que necessita de utilizar;
  4. Utilização: a pessoa deverá conseguir frequentar autonomamente todos os serviços que estejam disponíveis nesse espaço.

Sabendo que existe, ainda, um longo caminho a percorrer, existem adaptações que são facilitadoras da comunicação e de fácil implementação em qualquer serviço público ou privado. A título de exemplo, podemos referir:

  • Sinalética simples e icónica adaptada nos serviços e nos acessos ao mesmo;
  • Espaços facilitadores da comunicação (sem ruído, mesas redondas, boa qualidade da luz e acústica..)
  • Espaços facilmente diferenciados (com cores ou símbolos) para que a pessoa consiga facilmente circular;
  • Entradas distinguíveis (com cores ou símbolos) para os diferentes espaços físicos;
  • Destaque e a legenda dos diferentes espaços com informação escrita e visual (por exemplo, a identificação nas portas com fotografia e cargo da pessoa, permite o reconhecimento imediato de quem trabalha naquele gabinete).

Todas as pessoas envolvidas, de forma mais directa, com o atendimento (p.e. recepcionistas), deverão ser também auscultadas, para antecipar novas necessidades e para que as alterações realizadas sejam feitas de forma gradual e eficaz.

É igualmente importante clarificar que as adaptações necessárias para garantir uma verdadeira acessibilidade comunicativa permitem um retorno financeiro pois o impacto social proveniente dessa adaptação é muito mais abrangente e beneficia muito mais do que a pessoa com incapacidade.

Lembremo-nos de que qualquer um de nós, em algum momento da nossa vida, irá necessitar de adaptações nos espaços e se considerarmos o envelhecimento populacional, as questões de acessibilidade física e comunicativa tornam-se absolutamente prementes.

Inês Tello R. M. Rodrigues